Viva a liberdade

O mês de setembro é muito especial para o Brasil, pois, desde o dia 7 de setembro de 1822, comemoramos a nossa independência.

Inspirado pela energia, emanada do “Grito do Ipiranga” que clamava por liberdade, escolhi esse tema para escrever. Ele está intrínseco no nosso dia a dia.

O conceito simplista de liberdade da sociedade é diferente do conceito filosófico. Mesmo para mim, que provido do mínimo de conhecimento filosófico, liberdade era apenas no seu estado físico, e não mental ou espiritual.

Como o conhecimento é apenas um requisito da sabedoria, comecei a refletir e fazer conexões desse tema o que, confesso, me libertou de muitos conceitos e pré-conceitos.

A liberdade não é meramente uma questão de leis e Constituições. Somente é livre aquele que reconhece a ordem divina dentro de si, o verdadeiro nível pelo qual o homem pode se governar. (Platão)

Mal entendida, negada, almejada, sobretudo usurpada, a liberdade sempre foi uma questão fundamental para a humanidade.

Liberdade, essa palavra
Que o sonho humano alimenta
Que não há ninguém que explique
E ninguém que não entenda
(Cecília Meireles)

Então reflito: o que é ser livre? Como o homem pode ser livre? Seria uma possibilidade utópica? Qual liberdade? Que liberdade é essa? Para que ela serviria? Por que razões? Por quais motivos? De que forma é esta liberdade?

Lendo e refletindo sobre diversos conceitos, concluí que somente existe liberdade se esta for capaz de ultrapassar as barreiras da normose, pela qual fomos engolidos.

A ignorância aprisiona os seres humanos e os deixa encarcerados mentalmente e espiritualmente no sentido literal da normose, ou seja, “ tanto faz” ou “ todo mundo faz”.

O conhecimento e a reflexão nos libertam, pois nos impulsiona para subirmos determinados degraus da consciência mental. A liberdade está dentro da cabeça.

1 º degrau da libertação: conhecimento

O primeiro degrau de libertação é o conhecimento, que geralmente adquirimos dos nossos pais e escolas, por meio de educação técnica e filosófica, leituras, vivências culturais, experiências e etc.

Porém, não basta aos seres humanos apenas adquirir conhecimento, ser uma enciclopédia ambulante, e não ter uma opinião própria. Como incita e inspira a letra da música do Raul Seixas, “eu prefiro ser uma metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

2ª degrau da libertação: conexão com o divino

Para continuarmos subindo os degraus da liberdade, temos que entender que estamos conectados ao divino. Somos especiais e dotados de uma inteligência que nos faz ir além do conhecimento adquirido.

Onde então encontramos outro degrau, o da consciência, ou do pensamento próprio. Enfim, o degrau da busca da essência.

3º degrau da libertação: essência

Só nos momentos em que exerço minha liberdade é que sou plenamente eu mesmo. Assim, será o indivíduo autêntico, autônomo, autodeterminado.

O homem sempre se fez prisioneiro de angústias, medos, culpas, solidão, impossibilidade de agir, padrões pré-determinados, doutrinas, normas, dogmas, etc. Pode então libertar-se buscando o autoconhecimento e realizando-se. Tornando-se responsável por suas escolhas. Ser e fazer implicam em liberdade.

A condição primordial da ação é a liberdade. Liberdade é essencialmente capacidade de escolha. Onde não existe escolha, não há liberdade. O homem faz escolhas da manhã à noite e se responsabiliza por elas assumindo seus riscos (vitórias ou derrotas). Escolhe roupas, amigos, amores, filmes, músicas, profissões… A escolha sempre supõe duas ou mais alternativas; com uma só opção não existe escolha nem liberdade.

As escolhas nem sempre são fáceis e simples. Escolher é optar por uma alternativa e renunciar outra, ou outras. Não existe liberdade zero ou nula. Por mais escravizada que se ache uma pessoa, sempre lhe sobra algum poder de escolha. Também não há liberdade infinita, ninguém pode escolher tudo.

Mesmo o homem de consciência ampliada pode escolher entre ser livre ou preso. Ele pode escolher ser a luz ou a escuridão, ser identidade ou essência. Tudo vai depender da escolha que fazemos, ou seja, posso escolher ser criatura ou criador:

Uns dos maiores símbolos e prova real que a liberdade está dentro da cabeça, foi dado em vida por Nelson Mandela, “ Mandiba”, que mesmo após 27 (vinte e sete) anos de prisão física, nunca perdeu a liberdade de seus pensamentos, de sua alma, de sua essência, durante a sua existência física na terra.

Um dos discursos mais belos de Nelson Mandela sobre a liberdade foi este:

Tentei não vacilar; dei maus passos durante o percurso. Mas descobri o segredo: depois de subir uma alta montanha apenas se encontram outras montanhas para subir. Parei aqui um momento para descansar, para gozar a vista da gloriosa paisagem que me rodeia, para voltar os olhos para a distância percorrida. Mas só posso descansar um momento, porque, com a liberdade, vem a responsabilidade, e não me atrevo a demorar, pois a minha caminhada ainda não terminou. (…) Ser livre não é apenas livrar-se das próprias grilhetas, mas viver de uma forma que respeite e promova a liberdade dos outros. (…) Eu não tinha a menor dúvida de que o opressor tinha de ser libertado tanto quanto o oprimido. Um homem que tira a liberdade de outro homem está prisioneiro do ódio, está fechado atrás das grades do preconceito e da estreiteza de vistas. Não sou verdadeiramente livre se estou a tirar a liberdade a alguém, tão certamente quanto não sou livre quando me é roubada a minha humanidade. Tanto o oprimido quanto o opressor são espoliados da sua humanidade. (Nelson Mandela, in ‘Long Walk to Freedom (1994))

Ao chegar ao fim de cada artigo que escrevo, sempre acho que é um momento triste, pois a conclusão dá um sentimento de acabado, e este tema em particular estava curtindo muito.

Já que somos livres para escolher, o que, como, quando e quanto sentir, eu escolho um sentimento de criador. Prometo para mim mesmo que vou me arriscar mais e praticar no dia a dia ações com o sentimento de VIVA A LIBERDADE!